Descarrilhador de Trens

 

Sempre me ensinaram

Que eu deveria respeitar os trens,

Por serem pesados e lentos

Em suas cadências irreversíveis,

Em seus solilóquios de hospital de sentido único,

Em que a chuva pouco importa

À sua pele metálica,

Em total indiferença

Às lágrimas saudosas das estações

Que sempre ficam para trás.

 

Sempre me ensinaram

Que suas marchas férreas

Sempre foram determinadas

Somente pelo maquinista,

Soberbo e desdenhoso,

Dos múltiplos e pequenos calhaus,

Que em suas singularidades minúsculas e coletivas

Sustentam a imponência,

Que letargicamente se desfaz em limalhas

Pensando que ainda é trem.

 

Até que encontrei o descarrilhador,

O homem que põe abaixo,

Que faz o trem beijar o seixo.

O descarrilhador,

O ser que ainda não é,

E quer vir a ser o trem decúbito dorsal,

Com todos os seus não sentidos inversos,

Em versos.

O descarrilhador, o poeta virador.

 

 

 

Ijuí, 11∕04∕2013.