A Federico García Lorca – perdoe-me Federico, por minha total insolência de dedicar estes versos a ti -, este maravilhoso cigano das palavras de Fuente Vaqueros, por todos os versos e possibilidades eróticas que sua poesia nos deixou.
Nesta manhã que ainda está sendo amamentada
Nos fartos e orvalhados seios da noite,
Que não sabe se é quente ou se é fria,
E que insiste em não se fazer diáfana,
Decidi,
Com o mesmo desespero vivífico de Lorca,
Diante da iminente morte de seus futuros versos,
Pelas irascíveis torrentes purpúreas da bala metalina do general,
Enfrentar resolutamente o inaudito,
Ainda que, momentaneamente, sem o espírito vital da música,
Mas tentando encontrar aberturas
Contra as determinações do mundo,
Na limitação metafórica de minhas palavras.