Chuva, ó chuva!
Excesso de noite orvalhada,
És torrente de lágrimas na arcada,
E por onde passas,
Constrói e estilhaça
Os mesmos instantes de vida.
Chuva, ó chuva!
Que nos alegres ditos de minha terra,
És o ingênuo enigma que encerra
Para todas minhas crianças
Em tardes de grande festança,
O mistério de cair em pé e correr deitada.
Chuva, ó chuva!
Que nos silêncios de meu pensamento,
És percussão e acento,
Quietude de cada segundo,
Permissão de acesso ao mundo,
Na inaudição despreocupada de noites distantes.
Chuva, ó chuva!
Em teu contraste cinzento,
Sempre em namoro com o vento,
Rompe com teus irmãos,
Graves e perfurantes furacões,
A negra calmaria das noites e de meus sonhos.
Chuva, ó chuva!
Em minhas retinas de inverno,
Em alguma estação pro inferno,
Faz desaparecer todos meus rastros,
Lança minha memória em penhascos,
Leva meu trem na solidão.
Ijuí, 20∕03∕2013.